O “rei do carbono” Ricardo Stoppe Junior, um empresário paulista que se apresentava como fazendeiro preocupado com a preservação ambiental, acabou preso pela Polícia Federal (PF) sob a acusação de vender créditos de carbono lastreados em terras griladas da União e de reserva indígena, usando esquemas fraudulentos e pagando propinas a servidores públicos.
Principais Destaques
- Stoppe Junior construiu imagem de empresário que investe em negócio sustentável com créditos de carbono, mas acabou preso pela PF em operação contra grilagem de terras e propinas.
- Ele é acusado de um esquema de venda ilegal de R$ 180 milhões em créditos de carbono, usando terras griladas da União e de reserva indígena, com fraudes em cartórios e pagamentos de propina.
- Apesar de se apresentar como preservacionista, investigações apontam que Stoppe Junior corrompeu oficiais de cartório e policiais para expandir ilegalmente suas terras na Amazônia, ameaçando áreas protegidas.
O Rei do Carbono Caído
Meu nome é Ricardo Stoppe Junior, e eu fui o alvo principal da Operação Greenwashing, deflagrada pela Polícia Federal no início deste mês. Durante anos, construí cuidadosamente a imagem de um empreendedor preocupado com a preservação ambiental, investindo em créditos de carbono na Amazônia. Porém, tudo desmoronou quando fui acusado de um esquema massivo de grilagem de terras e corrupção.
Nasci no interior de São Paulo e sou formado em medicina, mas descobri que minha verdadeira paixão era pelos negócios. Nos anos 2010, comecei a investir em créditos de carbono, que têm lastro em projetos que reduzem danos ambientais. Uma unidade equivale a uma tonelada de CO2 que deixou de ser emitida, e empresas podem comprá-las para compensar seus impactos. Rapidamente, me tornei um dos maiores players nesse mercado bilionário.
Para o público, eu me apresentava como um fazendeiro que optou pelos créditos de carbono porque ganharia mais dinheiro na Amazônia do que criando gado. Dizia estar há 20 anos na região e que sentia ter nascido ali. Nas redes sociais, me posicionava como um bolsonarista convicto, chegando a defender intervenção militar em postagens.
O Esquema de Grilagem
No entanto, as investigações revelaram um esquema muito mais sombrio por trás do meu suposto negócio sustentável. A Polícia Federal identificou que eu estava vendendo créditos de carbono lastreados em terras griladas da União e de reserva indígena, através de fraudes em cartórios e pagamentos de propinas a servidores públicos.
Um dos principais focos da investigação foi o projeto Fortaleza de Ituxi, que eu dizia ser uma área de 133 mil hectares preservada no sul do Amazonas. Na verdade, parte dessas terras pertencia à União e à Terra Indígena Kaxarari. Através de corrupção em cartórios e apresentação de documentos falsos, conseguimos expandir ilegalmente o tamanho dessas áreas.
Propinas e Corrupção
As provas contra mim são esmagadoras. A PF obteve conversas minhas mencionando propinas a uma oficial de cartório em Apuí, no Amazonas. Em um áudio, eu falo sobre pagar R$ 700 mil para essa servidora. Outras conversas revelam minha influência sobre policiais na região, citando acordos e pagamentos para favorecer meus interesses.
Meu braço direito chegou a listar números telefônicos que estariam grampeados em uma investigação sobre nossas atividades. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) também identificou transações suspeitas envolvendo R$ 1,1 bilhão.
Conclusão
Apesar de toda a fachada de empreendedor sustentável, a verdade é que eu estava profundamente envolvido em um esquema criminoso que ameaçava terras protegidas e comunidades indígenas na Amazônia. A ganância me cegou, e agora estou pagando o preço por minhas ações. Espero que meu caso sirva de alerta para a necessidade de preservar verdadeiramente nossa floresta, sem corrupção ou exploração ilegal.